Alguma vez você já teve a impressão de ser controlado por um mau hábito ou acreditou que um hábito era impossível de mudar? Quantas vezes tomamos uma resolução que iremos quebrar um mau hábito, em geral no ano novo que raramente funciona?
Para quebrar um hábito de forma mais eficaz, é preciso mergulhar mais a fundo em nós mesmos, com atenção plena, mesmo que esta experiência seja desconfortável. Como reforça Ken Verni, “Ter atenção plena é ser honesto consigo dispor-se a ver as coisas como elas são e a reconhecer esta percepção.”*
O desafio é reconhecermos, sem nos desmerecermos por isso, que determinados hábitos tem consequências negativas para nossas vidas. Até o fato de negar que termos maus hábitos pode ter se tornado mais um hábito. Vários autores, como Paul Stoltz, reforçam que a tentação de negarmos um problema é grande: “é mais fácil negar que você estourou o cartão de crédito ou gasta muito além do que ganha de que submeter à disciplina necessária para acertar a situação.”**
Nós tendemos a lidar com situações desconfortáveis utilizando “válvulas de escape” para aliviar tensões. Você já deve ter ouvido a expressão “eu como por estresse ou por ansiedade”. Utilizar os alimentos como conforto para uma situação de estresse pode provocar uma associação indesejável. Num dado momento, qualquer emoção negativa desencadeará uma compulsão alimentar.
Como sugere Suzanne Giesemann, “em vez de recorrer imediatamente aos alimentos em busca de conforto, é preferível encarar os seus problemas de frente, sem bloqueá-los da sua consciência”. A autora acrescenta que, “embora possa ser difícil sugerir que você comece a sentir o que você vem tentando evitar durante anos, tenha em mente que não é possível, nem desejável se sentir bem todo o tempo. As suas emoções ‘negativas’ têm um propósito de existir. Elas o impulsionam a mudar”.
As emoções negativas nos dão sinais valiosos das situações e comportamentos que podemos transformar ou administrar em nossas vidas. Até que sejamos capazes de aceitar plenamente a existência dessas emoções, sem buscar válvulas de escape (comida, bebida, cigarro, compras), elas continuarão a nos controlar. Quanto menos enfrentamos um problema (ou uma emoção negativa), menos nos preparamos para resolvê-lo. O que seria uma coisa muito simples pode se tornar um bicho-de-sete-cabeças.
Muitos de nossos medos não são tão graves quanto imaginamos. Transformar um problema em uma catástrofe depende de nós. De qualquer forma, é mais saudável aceitar as nossas emoções do que negá-las. Não espero que você enfrente os seus temores de uma hora para a outra, respeite o seu tempo. Se julgar necessário, procure ajuda profissional. Comece a aceitar que determinadas emoções negativas existem e, se forem reprimidas através da comida, bebida, tv, internet, compras etc… podem desencadear em uma compulsão.
Para realizar uma mudança na sua vida considere as seguintes estratégias:
- Seja honesto consigo e avalie se algum hábito gera consequências negativas na sua vida.
- Observe um hábito sem fazer autojulgamentos. Cuidado com a armadilha: às vezes nos sentimos mal por nos sentirmos mal.
- Reconheça uma emoção negativa sem se desmerecer por isso. Tudo bem você sentir-se frustrado, envergonhado, ou ter qualquer sentimento que você considera negativo.
Do ponto de vista prático, para começar se libertar de maus hábitos passe a tomar decisões de forma consciente. Alguma vez você já agiu de forma impulsiva e se arrependeu depois? Pode ter sido uma compra ou algo que você comeu ou falou e você se arrependeu depois. Para evitar tomar decisões de forma automática:
- Antes de tomar uma decisão, preste atenção nas sensações físicas e não ligue para as histórias que a mente lhe conta.
- Concentre-se na sua respiração ou identifique uma parte do seu corpo que está tensionada. Se sim, procure relaxá-la. Essa é a pausa sagrada. Esta pausa contribui para você descondicionar um hábito.
- Só depois decida o que fazer.
Não se acomode, sempre é tempo de mudar um mau hábito. De tanto ficarmos passivos diante de uma situação corremos o risco de perder o nosso referencial. É tempo de se reinventar: você pode mudar para melhor e viver a sua melhor versão!
Bibliografia consultada:
– Ken A Verni, Atenção Plena (Publifolha Editora: 2017) pp.172
– Padraig O’Morian, Atenção Plena Mindfulness (Editora Fundamento, São Paulo,2015 pp. 106)
– Elisha Goldstein, ph.D e Bob Stahl, ph.D, Atenção plena para todos os dias práticas Simples para reduzir o estresse (Editora Sextante, Rio de Janeiro 2015) pp.128
– * Artigo: Repressing Emotions 10 Ways to Reduce Emotional Avoidance by Angelica Attard Ph.D. https://positivepsychology.com/repress-emotions/